No inicio desce ano recebi uma turma com 28 alunos dentre eles dois que se destacaram logo de início pelas discussões diárias.
Um deles que vou chamá-lo de Zé outro de Tadeu.
Diariamente eram brigas na sala de aula, recreio e saída da escola.
Zé apesar de ser arredio e atrevido nunca me faltou com respeito e sempre que precisava falar com ele sobre as atitudes abaixava a cabeça e logo pedia desculpas.
Tadeu não.Enfrentava com desrespeito me mandando longe principalmente com aquele clássico vai te...Não preciso completar.
Para evitar algo mais sério a direção resolveu trocar um de turma.Fiquei então com o Zé.
Tadeu passou algum tempo não sei precisar o quanto foi, só sei contar a vocês que estava maravilhada com a turma, conseguia aplicar as atividades solicitadas pelas disciplinas e algumas coisas do semestre passado como a música que eles estavam fascinados.
Fazíamos planos e pensei essa vai ser uma turma especial.Meu sonho durou pouco e virou pesadelo.
Lá veio o “Projeto Acelera” que acelerou foi minha vida e a de muitas crianças, pois com o desmembramento de uma das quartas (das quatro que havia), ficou resumidamente em três, sendo a minha pela manhã invadida por mais outras crianças que tiveram que se adaptar não só comigo, mas com os outros colegas.
Ficando então a turma com 43 alunos.
As adaptações foram acontecendo aos poucos e como disse uma de minhas alunas novas custou cair à ficha (disse isso ao se referir que a outra professora não voltaria a ficar com eles e que teríamos todos que nos entender).
Com essa turma já consigo realizar as atividades e é prazeroso estar com eles mesmo com alguns problemas de disciplina.
Mas meu pesadelo esta à tarde.Lá encontrei o Tadeu aquele aluno que no início tivemos que trocá-lo de turma.
Não sei se estou cometendo um erro, mas o fato que rezo todos os dias para que ele não atormente tanto, dou Graças a Deus ao terminar o dia e que consegui terminar sem tomar uma atitude impensada.
Em quase trinta anos de sala de aula, nas quais já vi e convivi com os mais absurdos eu nunca dei “Graças” por um aluno não estar presente ou ficar torcendo para que não compareça.
É totalmente fora da normalidade o que essa criança com doze anos faz: pula, provoca vômitos na hora que os colegas estão merendando, solta gases forçadamente, quando estou explicando algo vem por trás e grita ao meu ouvido e sorri ironicamente quando olho para ele, atormenta batendo nos outros, chutando, saindo da sala e indo para as escadas ou banheiro, quanto esta jogando figurinhas é de menos o pior é quando resolvem aprontar outras tantas,o pior foi vê-lo ingerir alcool sem que eu pudesse intervir,pois tinha medo de machucá-lo ao pegar a garrafa e vê-lo sorrir com um ar prazeroso de ter ingerido a alcool.Ainda me mandar tomar naquele lugar é para mim de menos,pois só vendo para crer o que mais acontece.
Não sei definir quem é esse personagem que me tira o chão, que faz com que eu não tenha mais sonhos, que não acredite mais naquilo que até então acreditava como possível dentro de uma sala de aula.
Que me faz perder a vontade de dar minha aula e me desestruturou diante das minhas práticas do Pead, pois aqui nessa turma só foi possível aplicar algo quando ele não estava presente.
Isso é muito triste, não encontrei um jeito de lidar com o afeto, pois não aceita.
Minha esperança é que como encaminhamos ao Psiquiatra logo tenha uma resposta positiva, mas confesso perdi o encanto e isso refletiu na minha vida tanto pessoal, como profissional e como aluna eu já me fiz à pergunta: ”O que estou fazendo aqui?”.
Não é um personagem de ficção é um personagem real talvez gritando por socorro, mas nós e nossas escolas não estamos estruturadas para lidar com esses personagens que nos tiram o sono, que balançam nossas emoções, que nos fazem principalmente rever nossas práticas pedagógicas, que mesmo estando nos renovando no Pead ainda não encontramos soluções para muitas de nossas angustias profissionais.
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