terça-feira, abril 07, 2009

"Burra essa professora".

Essa semana em sala de aula em determinado momento um aluno do segundo ano disse ao colega:
_Que professora burra!
Todos os outros ficaram inquietos e repetiam em voz alta:
_Prof.ele te chamou de burra.
Eu olhei para eles e disse calmamente:
_Penso que sou, pois nunca estive num segundo ano.
Olharam-me e repetiam aflitos que o colega havia me chamado de burra, esperando talvez que eu o mandasse para a direção ou gritasse com ele.
Pedi que de maneira organizada formassem uma roda, quando todos estavam sentados eu pedi ao aluno que me explicasse porque eu era burra.
Ele imediatamente me respondeu que era porque não ensinava a ler, escrever, pintar, recortar, usar pouca cola e nem passava bastante lição no quadro e que era chato não ter muitas folhinhas para pintar.
Depois que ele terminou de falar e todos escutaram atentamente eu disse para eles:
_Eu nunca estive no segundo ano que tal todos vocês me ensinarem como e o que devo fazer?Eu posso aprender com vocês se me ensinarem. Que tal vocês me dizerem o que eu devo ou não fazer.
Imediatamente a lista de coisas que eu deveria aprender foi ficando enorme.
Eu como aluna do segundo ano deveria aprender:
“Ler e escrever, copiar tudo do quadro, escrever sem virar o caderno, pintar direito, usar pouca cola pra minha mãe não reclamar que estou gastando muito, esperar m8inha vez para falar, não virar cambalhotas e nem dar saltos mortais, pois posso me machucar não subir nas mesas, guardar os brinquedos para o recreio, não pegar as coisas dos outros muito menos chutar ou bater nos colegas, entre outras mais”.
“Então “fizemos algumas combinações trocando o “não posso” pelo termo” “o que eu posso”, isso para eu ser uma boa aluna de segundo ano”.
Feitas as combinações voltamos às atividades sempre eu perguntando para eles se estava fazendo certo.
Eles sem constrangimento e numa naturalidade própria de criança passaram me chamar de “colega”.
Ao final do dia voltei para casa e não conseguia parar de pensar em tudo que eu ouvi e na minha atitude se eu havia feito certo ou não?Mas sei de uma coisa:
Serviu para eu me avaliar como profissional, eu nunca havia entrado antes numa sala de aula para alfabetizar, posso estar errando muito querendo acertar, mas o fato que afetivamente estou envolvida com eles, com suas dificuldades e limitações de aprendizagem, seus inúmeros problemas familiares (como abandono, rejeição, carência afetiva e outros).
Sei que eu já conquistei a confiança deles percebo no olhar ou até mesmo quando disputam minha mão,quando se agarram feito uns carrapichos cada um de um lado,mas sei que eu preciso dar mais que afeto para que ocorra a aprendizagem,que eles aprendam o tão sonhado “ler e escrever”.
“Preciso urgente aprender estar num segundo ano.”

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